Com a Primavera finalmente a ganhar força, tive a oportunidade de me sentar na esplanada com um dos meus melhores amigos, para falarmos de tratamentos para rugas.
Não, este meu amigo não é, de todo, alguém interessado em tratamentos estéticos, mas tem uma cultura geral invulgar e sem eu perceber como, demos por nós a discutir rugas, mais especificamente os métodos de preenchimento de rugas e as suas origens.
O ponto de partida bastante filosófico foi a negação por parte do meu amigo de que as preocupações estéticas, actualmente tão exacerbadas sejam uma questão recente. Como exemplo, citou-me Gladys Deacon, duquesa de Malborough, conhecida pela sua extraordinária beleza, aparentemente louvada em certa ocasião pelo próprio Marcel Proust, capturada por Degas e Rodin.
As rugas não seriam o seu maior problema, mas em busca do perfeito nariz helénico, por volta de 1903, quando tinha somente 22 anos, Gladys submeteu-se a uma injecção de parafina para remodelar o nariz. Com o tempo, a parafina deslocou-se, alojou-se ao longo do maxilar e arruinou-lhe a beleza.
Os tratamentos anti-rugas: então e agora
Olhar para as injecções faciais do início do século é um pouco como imaginar a ilha do Dr. Moreau. No final do século XIX, marfim, metais diversos, vidro, celulóide, seda e a polivalente parafina eram materiais com os quais se tentava a reconstrução mamária e facial. Os cirurgiões da altura teriam as melhores intenções, mas os materiais e as tecnologias não estavam simplesmente à altura e injectar estes materiais em algo tão simples quanto rugas, carecia de precisão e controlo. Os resultados eram frequentemente atrozes.
Mas contrariamente ao que se possa pensar, a preocupação com as rugas não é realmente actual. No final do século XIX já John Harvey Kellogg louvava as virtudes das massagens faciais para combater as rugas. A indústria dava então os seus primeiros passos e é em 1910 que Elizabeth Arden funda a a Red Door, futura Elizabeth Arden Inc. A Vivaudou é das primeiras companhias a reconhecer a importância dos movimentos faciais na formação de linhas de expressão na publicidade ao seu Ego Wrinkle Remover de 1923. Nessa mesma década, a Rexona promovia os seus sabonetes tonificantes e purificantes. Tintura de benjoim, glicerina e hamamélis, eram dos ingredientes mais cotados.
A medicina estética dava nessa mesma altura alguns passos importantes: Chares Willi descreveu a utilização de gordura autóloga para preencher rugas naso-labiais e de expressão. Corria então o ano de 1926.
Mas foi preciso esperar até 1982 para as primeiras injecções de colagénio bovino para preenchimento de rugas, para então aparecer o Restylane no mercado em 1996. Este foi o primeiro filler de ácido hialurónico disponível e em grande medida revolucionou a medicina estética. Efectivamente, a sua polivalência permite-lhe a utilização não só na diminuição das rugas, mas também no restauro da tonicidade e hidratação da pele. Sendo um componente presente naturalmente no nosso corpo, o ácido hialurónico é praticamente isento de complicações e os seus efeitos são totalmente reversíveis com uma simples injecção de hialuronidase.
Não admira por isso que este seja o componente preferido para tratamentos cosméticos, mesmo após o surgimento de outras formulações como o Sculptra (ácido poliláctico) ou o Radiesse (hidroxiapatite de cálcio).
Combater as rugas no século XXI
O combate às rugas no início do século XX pode hoje parecer uma actividade bárbara. Pelo contrário, hoje em dia, trata-se de uma ciência refinada, que envolve tecnologia avançada com poucos riscos e uma ampla gama de possibilidades ao nosso dispor. Efectivamente, os materiais tornaram-se tão seguros e evoluídos que a qualidade do médico dermatologista marca a diferença.
E os preenchimentos são apenas o começo. As rugas não são todas iguais, e o botox é particularmente eficaz nas rugas de expressão, enquanto o laser estimula a produção de colagénio e elastina para produzir uma pele mais tonificada e rejuvenescida.
O tratamento à nossa medida depende apenas do nosso orçamento, do tipo de rugas e da qualidade do médico dermatologista. De resto, para cada ruga há uma possibilidade à nossa espera. De experimentos duvidosos, a tecnologia médica de ponta, a eliminação de rugas deu passos de gigante no curto espaço de um século e os beneficiados somos todos nós!