Pedi aos meus amigos para me deixarem sugestões de temas para textos. Entre estes, figurava este: carne de porco. Gostei do som e da carga deste tema. E achei que tinha algo a dizer sobre ele. Pode-se dizer que me senti inspirado.
Começo por definir “carne de porco“. Carne de porco é… a carne que o porco tem. Além disso, a carne de porco:
– faz parte do animal/ser porco, tal como os ossos, nervos, órgãos e mentalidade própria
– é algo que muitas pessoas comem
– é algo que muitas pessoas não comem
– é algo que é utilizado nas indústrias farmacêutica, cosmética, alimentar e produtos do lar
No que toca à fisionomia da carne de porco, toda a gente tem uma ideia geral do que é e como é. Aqui, vou-me debruçar mais sobre o seu uso na alimentação, nas indústrias e o meu próprio ponto de vista sobre o assunto.
A carne de porco terá sido, com certeza, utilizada como fonte de alimento pela primeira vez a partir do momento em que o Ser Humano a provou e gostou, ou se sentiu nutrido por ela. Poderá ter sido crua, num primeiro momento, e, mais tarde, com a invenção do fogo, cozinhada. Nos dias de hoje, rara é a pessoa, na nossa cultura, que não gosta de carne de porco e não a come, pelo menos, uma vez por semana, graças ao advento da indústria da carne. Antigamente, e estamos a falar de um espaço temporal de 40 ou 50 anos, a carne de porco era escassa e de criação caseira. As famílias que tinham acesso a esta carne faziam-na render um ano, conservando-a em sal e consumindo-a gradualmente. As “matanças do porco” davam-se em épocas festivas, como símbolo de abundância e para marcar uma ocasião especial, um hábito fora do quotidiano comum, provavelmente proveniente de antigas culturas pagãs de tributo à Natureza e à Caça.
Com o desenvolvimento da produção industrial, em massa, de carne, a situação mudou radicalmente. Hoje em dia toda a gente tem acesso a carne de porco, todo o ano, em qualquer talho. De onde essa carne vem e como viveu o animal em causa já não é tão certo. Temos uma ideia de que tudo está limpo, legal e seguro. Mas pode não ser sempre assim. Existem, pelo menos, três situações diferentes:
1. O porco que vive em espaços confinados em que só tem espaço para comer e largar os seus dejectos, todo o dia e toda a noite, e que é alimentado com substâncias que o fazem crescer e engordar o mais rapidamente possível;
2. O porco que é criado ao ar livre, com mais espaço para circular e com um ciclo de vida natural;
3. O porco que é criado ao ar livre, que tem mais espaço e um ciclo de vida natural e é alimentado com produtos de origem biológica (sem antibióticos e outras substâncias), tal como se vivesse no seu ambiente natural;
Ora, há outro aspecto da carne de porco como alimento que, na realidade, me motivou mais a escrever sobre ela: os seus efeitos na saúde. É que por todo o lado e ao longo de toda a minha vida ouvi dizer “carne de porco faz mal” e “carne de porco faz bem”. Afinal, é saudável ou não?
A carne suína faz bem
A Profa. Dra. Neura Bragagnolo, doutora em Ciência dos Alimentos, afirma que a carne suína é a fonte mais nutritiva de vitamina B1 e que, além disso, “é pobre em sódio e rica em potássio (…) ou seja, é altamente favorável ao controlo da pressão arterial”. Ela afirma também que a carne suína apresenta um equilíbrio perfeito de aminoácidos essenciais para o ser humano, que as suas proteínas são altamente digestíveis e com uma forte presença de vitaminas e minerais. Por fim, ela demonstra também que, em comparação com outras carnes, a carne de porco apresenta um teor de colesterol mais baixo, bem como o teor de gordura.
A carne suína faz mal
Ao contrário do que eu esperava, foi mais difícil encontrar argumentos contra o consumo da carne de porco, no que concerne o seu efeito na saúde humana. As primeiras discussões que encontrei sobre o assunto, na Internet, partiram de grupos religiosos cristãos. Ao que parece, mesmo no seio desta comunidade, existe um debate aberto e gente a favor e contra. Para citar um exemplo, encontrei um senhor que cita a Bíblia: “Também o porco, porque tem unhas fendidas e o casco dividido, mas não rumina; este vos será imundo;”(Lv 11. 7)explica o seu significado, justificando esta frase proferida por Deus no Antigo Testamento. No entanto, logo a seguir apresenta outra citação, proferida por Jesus no Novo Testamento, em que tal restrição alimentar é levantada:”…porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos.” (Mc 7. 19).
Continuei a pesquisar e a única fonte que encontrei mencionando malefícios do consumo de carne de porco prendeu-se com o seu modo de preparação. Isto é, existe, sim, um malefício em comer carne de porco… quando crua ou mal passada. Esse malefício, ou malefícios (estão documentados dois) chamam-se Cisticercose e Teníase. A Cisticercose é a fase da larva, ou seja, ocorre através da contaminação pela ingestão dos ovos da Ténia. A Ténia ou Solitária é o nome comum dado aos vermes platelmintos das ordens Pseudophilidae e Ciclophylidae, que pertencem à classe Cestoda, que inclui vermes parasitas de diversos animais vertebrados, inclusive do homem. A Taenia solium e a Taenia saginata são as mais conhecidas por parasitarem o intestino delgado do homem. Os seus hospedeiros intermediários são o porco, no caso da Taenia solium, o boi no caso da Taenia saginata e os peixes no caso do Diphyllobothrium latum. A Teníase é a fase adulta da Cisticercose.
Opinião de um vegetariano: Eu
Muito mais se poderia dizer acerca da carne de porco, seu consumo e utilizações modernas. Especialmente sobre a sua industrialização. O próprio termo “industrialização” da carne de porco já mexe comigo de alguma forma. Mas ficará para outro momento.
Como ovo-lacto-vegetariano de nascença e com 31 anos e picos de existência e convivência com uma grande diversidade de pessoas e culturas, defendo, até ver, que, só por si, comer carne de porco não faz mal. Quem sou eu para dizer isto, penso eu. Sou Ninguém no meio de um universo de estudiosos do assunto. Mas sou Alguém com Olhos, Cabeça e Boca. E, com base no que tenho Observado e Reflectido , só posso concordar com quem diz que comer carne de porco não faz mal ou inclusive faz bem. Porquê? Porque conheço imensas pessoas que consomem esta carne e, aparentemente, apresentam uma condição perfeitamente saudável. Mais, conheço bastantes vegetarianos e seus “derivados” que apresentam uma condição também perfeitamente saudável. E posso também enunciar o contrário; conheço vegetarianos que adoecem com bastante facilidade e apresentam um aspecto débil, bem como pessoas que consomem carne de porco que, embora não apresentem um aspecto débil, aparentam sofrer de outras maleitas como a inércia, obesidade e intoxicação.
Que posso eu concluir com isto, mesmo baseando-me grandemente no senso comum? Que vale tudo. Que tudo é permitido. Que tudo pode fazer bem e pode fazer mal. Certamente encontrarei, em pesquisa mais exaustiva, livros e artigos científicos que defendem cada uma destas facções. E não tenho dúvidas que ambos terão a sua razão. Mas aquilo que efectivamente VEJO, constato, é que a realidade vai muito além da teoria, análises e provas científicas. Trata-se, parece-me, de uma escolha pessoal. Escolha essa que também é fortemente condicionada pela cultura estabelecida e pelo meio em que se foi sendo educado. Contudo, em fase adulta, já ninguém se pode desculpar de ser obrigado a comer algo que não quer.
Ainda assim, hoje em dia, a escolha sobre comer ou não comer carne de porco, ou qualquer outro alimento, já não se baseia só no seu sabor ou se é saudável para nós ou não. Há outros factores a ter conta…quando se quer tê-los em conta. Falo dos efeitos da industrialização da carne no meio ambiente, na forma como os animais são tratados nas “fábricas” de carne, naquilo que eles comem e que, posteriormente, nós comemos, e nos outros usos que são dados à carcaça do animal. Será que precisamos de comer tanta carne, neste caso, de porco? Quem está a beneficiar mais com isso? Se víssemos de onde vem a carne de porco, seríamos capazes de a comer? Serias capaz de visitar um matadouro? Levarias o teu filho/filha a visitar um matadouro? E, se não existissem os supermercados e os talhantes, serias capaz de matar o teu porco e prepará-lo para comer?
Fontes: http://idmed.terra.com.br/dieta-e-boa-forma/alimentacao-saudavel/carne-suina-faz-bem-ou-mal-saiba-mais-sobre-ela.html http://www.esbocandoideias.com/2011/11/a-biblia-diz-que-comer-carne-de-porco-e-pecado.html http://www.dietaesaude.net/cisticercose-e-teniase-o-perigo-das-carnes-mal-cozidas-parte-1/ http://reformadesaude.blogspot.pt/2006/01/carne-suna-tornou-se-saudvel.html