A Esquizofrenia continua a ser considerada uma das doenças mentais mais graves e mais incapacitantes do mundo, não só para o doente mas também para toda a sua rede de relações sociais e familiares, pelo que encela muitas incertezas e questões importantes.
A Esquizofrenia atinge principalmente indivíduos jovens e tem a particularidade do pedido de ajuda inicial não ser feito directamente pelo seu portador, mas sim pela sua família. Tal acontece não por o doente não se sentir mal, mas porque são pouco frequentes por parte destes doentes frases como “Sinto-me angustiado”, “Estou confuso” ou “Preciso de ajuda”. Este aspecto da doença faz com que o diagnostico muitas das vezes ocorra tardiamente.
Esquizofrenia, Doente e Família
Tal como acontece com outras doenças, nenhum individuo ou família se encontram preparados para lidar com uma doença mental, pelo que após o diagnostico ocorre um período de perplexidade que leva consequentemente a muitas duvidas e receios relativamente ao futuro. Estas questões passam por questões praticas como o tomar conhecimento das características gerais da Esquizofrenia (aspectos histológicos, epidemiológicos), saber quais as causas e sintomas, como evolui, quais os tratamentos possíveis e mais adequados, e de que forma pode interferir a doença no desempenho da vida quotidiana.
Muitas são as formas de obter esta informação. Em primeira instancia, e tento em conta a complexidade e heterogeneidade da Esquizofrenia, todas as duvidas devem ser colocadas em contexto de consulta ao médico psiquiatra assistente. Contudo, existe muita informação disponível na internet, que apesar de por vezes poder ser pouco credível ou rigorosa, pode ajudar a esclarecer algumas duvidas e facilitar o processo de aceitação da doença. Neste sentido fica aqui a indicação do livro “Esquizofrenia – Para além dos mitos, descobrir a doença” da autoria do psiquiatra Pedro Afonso, lançado em 2010 (Editora Princípia), com o intuito expor de forma clara e acessível os vários aspectos clínicos da doença a doentes e familiares, respondendo às questões mais frequentes na sua prática clínica.
No contexto da Esquizofrenia, a psicoeducação tem relevado uma grande eficácia, dado que permite a construção de uma relação de confiança e cumplicidade entre o médico, o doente e a sua família, com o intuito de combater a doença, ajudar na superação das dificuldades, e proporcionar a melhor qualidade de vida aos intervenientes. Diversos estudo realizados neste âmbito têm demonstrado que os doentes com Esquizofrenia que frequentam programas de psicoeducação adquirem:
· Melhor conhecimento da Esquizofrenia, e dos efeitos da doença em si próprio;
· Melhor capacidade de detecção de sintomas e da necessidade de pedir ajuda em situações de recaída;
· Melhor adesão terapêutica;
· Menor numero de reinternamentos hospitalares;
· Maior taxa de ocupação profissional.
Estes resultado indicam-nos para além disto, a importância que o próprio doente tem em todo o processo de tratamento/reabilitação desde o diagnostico. A manutenção do tratamento farmacológico é imprescindível, tendo neste contexto estrema importância que o doente e a família compreendam que a Esquizofrenia é uma doença cronica, que esta sujeita a diversas e diferentes oscilações ao longo do seu processo de evolução, onde são necessários efectuar ajustes na medicação. Por outro lado, o cumprimento de medicação tal como prescrita, não impede que estas alterações no estado da doença ocorram, sendo essencial saber recorrer a ajuda médica especializada nestas situações.
Para além do reconhecimento dos sintomas de recaída e da manutenção do plano terapêutico, existe um série de comportamentos que o doente deve ter, e a família deve procurar ajuda-lo a manter.
Factores de controlo a ter em conta na Esquizofrenia:
· Evitar o consumo de álcool e drogas;
· Manter um horário de sono regular;
· Informar o médico psiquiatra assistente sempre que tiver que realizar um outro tratamento médico;
· Aprender a detectar e a pedir ajuda quando surgem os sinais precoces de recaída;
· Tomar a medicação regularmente;
· Respeitar a medicação prescrita.
Comportamentos práticos que os familiares de doentes com Esquizofrenia podem adoptar perante as situações mencionadas anteriormente:
· Manter a calma, mesmo em situações de grande stress e angustia;
· Criar um ambiente tranquilo em casa, sem muitos estímulos;
· Gritar ou simplesmente falar mais alto não vai ajudar a resolver a situação, e ambos vão se sentir mais irritados e exaustos;
· Não ser autoritário ou agressivo com o doente;
· Mostrar compreensão mesmo que o discurso do utente não lhe pareça coerente;
· Explicar calmamente ao doente que se não tomar a medicação os sintomas (vozes, medos, insónias, etc.) vão voltar;
· Não colocar a medicação na comida ou bebida, uma vez que não promove o autocuidado e desenvolve sentimentos de desconfiança;
· Falar sobre o exemplo que alguém que cumpriu a terapêutica e obteve sucesso pode ser importante;
· Contactar o médico psiquiatra assistente ou o serviço de urgência.