Suar copiosamente das mãos, couro cabeludo, costas, axilas ou mesmo dos pés é frequentemente tido como apenas mais um traço da nossa fisionomia. Efectivamente, a sudorese excessiva, para lá das necessidades de manutenção da temperatura corporal tem um nome, hiperidrose, e é uma condição que pode requerer tratamento médico.
Ao ler qualquer texto, verá que a hiperidrose causa profundos complexos, vergonha, falta de auto-estima, evitamento social e uma degradação intensa da qualidade de vida. Eu não precisei de nenhum artigo para me dizer tudo isto, pois muito antes de descobrir o problema, senti-o na pele: literalmente.
A hiperidrose não tinha um nome quando no pediatra a minha mãe dizia que eu suava imenso durante as brincadeiras e o médico respondia ser algo perfeitamente normal. Com o passar dos anos, a sudorese excessiva começou a penetrar nos pequenos actos da minha vida.
Suar das mãos ou nos braços é algo que atribuímos a quem está nervoso ou receoso. Imagine-se por isso alguém que tem um trabalho para apresentar na aula ou uma entrevista de emprego e se apresenta suado sem razão aparente!
Se não estava nervoso, pode apostar que o tratarão como tal, e aí ficará mesmo nervoso!
A adolescência não fica fácil. Uma coisa são os famigerados beijos húmidos das tias, outra coisa é fazer uma carícia à menina que nos encanta e deixar rasto! Para a infeliz criatura, o nervosismo aparente tanto pode ser romântico quanto um deal breaker. A perícia nos desportos também tende a não ser a melhor; jogar andebol não será um talento.
Já em adultos, como selar um acordo com um firme aperto de mão quando se tem hiperidrose palmar? Esqueça isso.
E imagine o horror que pode sentir alguém que sofre de hiperidrose palmar perante um emprego onde toda a gente lhe solicitará um aperto de mão em jeito de olá, adeus, como está ou como passou. Obviamente o terror não ajuda o problema de modo algum: a maioria das pessoas sua quando está nervosa. Nós ficamos nervosos quando suamos.
Não somos particularmente calorentos, embora quem nos vir pense que enfrentaríamos o Pólo Norte em tronco nú. E apesar disto se o problema fosse estético, estaríamos todos bem, porque o interior é que conta, certo?
Errado. Sofrer de hiperidrose é mal conseguir agarrar um volante, ou deixar caír a caçarola do arroz se tiver a triste ideia de a agarrar sem algum pano. Sermos escultores ou malabaristas não costuma entrar nos nossos planos de carreira, mas e eu que sempre gostei de desenhar e montar aviões? Oh as epopeias!
Suar demasiado acaba também por prejudicar a nossa higiene, principalmente no caso da hiperidrose axilar. A limpeza torna-se uma prioridade, e acho que todos passamos em algum momento pelo desejo extremo de não fazer nada, nem exercício físico, não vá o suor revelar-se. Não é preguiça, é mesmo medo. E quando o calor chega, tudo fica pior.
Do mesmo modo, usar roupa interior mesmo com calor não é mania, nem apertar lenços de papel entre as mãos uma mania: são estratégias de sobrevivência.
Hiperidrose é uma doença.
A hiperidrose é efectivamente uma doença, ou se quisermos chamar-lhe de tal, uma “condição”. Mas é mais frequentemente aquele mal-estar que sentimos com o nosso próprio corpo ao qual só damos um nome quando nos deparamos com ele. Foi assim que percebi qual o meu problema, de modo meramente acidental. Antes dessa descoberta, a maioria das pessoas pensa simplesmente suar demasiado.
Sofremos os nossos complexos em silêncio, partindo o coração com desodorizantes de supermercados que prometem esferas super-absorventes e gingajogas pseudo-tecnológicas que farão maravilhas pelas nossas axilas.
Saber que o nosso sofrimento tem um nome e causas traz consigo algum alívio, porque traz a possibilidade de tratamento, de cura.
Tratamentos para a hiperidrose.
A hiperidrose tem cura, a hiperidrose tem tratamento.
Se ao ler este texto se identifica com as provações do autor, talvez padeça de hiperidrose, e quanto mais depressa confirmar ou desmentir o diagnóstico, melhor. O maior favor que fará a si próprio é procurar um dermatologista e expor-lhe toda a situação, procurando um tratamento adequado, porque não há respostas nem tratamentos universais.
A hiperidrose tem uma epidemiologia complexa de causas múltiplas e só um dermatologista competente poderá fazer o diagnóstico diferencial. Tipicamente recorre-se a desodorizantes com alto teor de cloreto de alumínio. O componente existe em muitos anti-transpirantes comerciais, mas quem sofre de hiperidrose necessita de doses muito mais elevadas. Confesso que resulta, mas tem algumas consequências incomodativas como a irritação da pele e uma sensação de comichão omnipresente quando sofro uma maior sudorese.
Existem cirurgias como a simpatectomia torácica, que tem imensas histórias de sucesso, mas hoje em dia nem é necessário submetermo-nos a uma cirurgia: a aplicação local de botox parece ser a mais recente arma contra o suor excessivo!
Se leram estas linhas até aqui espero que vos tenham sido úteis, que sintam que as vossas experiências de vida com hiperidrose não são únicas e por isso não estão sozinhos.
Suar demasiado não é ser nervoso, medroso ou calorento. Não é ser diferente, é ter hiperidrose, é ter algo curável. Não se renda, não se desanime e procure um dermatologista o quanto antes.
Em caso de dúvidas, consulte um especialista para saber mais sobre hiperidrose