Em protesto contra a falta de pagamento, os médicos de cirurgia vascular do Hospital de Cirurgia de Aracaju iniciaram em Julho uma suspensão do atendimento aos pacientes e restantes actividades.
Paralisação de médicos de cirurgia vascular
A paralisação dos médicos de cirurgia vascular desta unidade hospitalar é o mais recente episódio numa história de crises e suspensão de serviços que tem afectado a instituição no último ano.
Envolvidos nesta nova paralisação dos médicos de cirurgia vascular por falta de pagamento, estiveram igualmente os médicos anestesistas. Do lado do Hospital de Cirurgia, a direcção hospitalar justifica os atrasos salariais com o incumprimento da Prefeitura de Aracaju. A Secretaria Municipal de Saúde negou entretanto as acusações, declarando que as verbas se encontram normalizadas e depositadas à ordem do Hospital.
Central ao problema é o facto de uma parte destes médicos não serem funcionários efectivos do hospital e trabalharem em regime de prestação de serviços, recebendo os seus salário apenas através de um protocolo entre a instituição hospitalar e a autarquia. À data, o protocolo encontrava-se em aberto, após a introdução de alterações em Maio. Apesar disso, a autarquia garantira que o estado do protocolo não interrompera em momento algum a transferência de verbas para a unidade hospitalar.
Com a suspensão da actividade de médicos cardiologistas desde Fevereiro, além dos médicos de cirurgia vascular e outras especialidades, cerca de 600 cirurgias terão sido suspensas até ao final de Julho. Além da falta de pagamento de salários, foram denunciadas também carências materiais, como falta de luvas e medicamentos. Só dia 05 de Agosto autarquia e Hospital chegariam a acordo para retoma de actividade normal.
O ano de 2014 no Brasil tem sido marcado por diversas instâncias de paralisação e protesto da classe médica, envolvendo várias suspensões de atendimento a segurados de planos de saúde cujos valores de reembolso são considerados baixos pelos profissionais de saúde.
Em Maio, o Hospital Walfredo Gurgel, o maior hospital de urgência do Rio Grande do Norte, viveu uma outra crise, com a demissão em bloco de diversos médicos de cirurgia vascular. No período de um mês, foram 5 as demissões apresentadas, por entre denúncias de falta de salas para cirurgia vascular, falta de escala de enfermaria e a alta taxa de mortalidade de pacientes por aneurisma no pós-operatório, por falta de repouso adequado.
Os médicos de cirurgia vascular na sociedade actual
Esta paralisação envolvendo cardiologistas e médicos de medicina vascular atinge aquela que é das principais causas de morte no Brasil: estima-se que 29,4% dos óbitos no país sejam causados por doenças cardiovasculares, segundo informação da Organização Mundial de Saúde.
O panorama em Portugal é idêntico, com aproximadamente 1 em cada 3 mortes atribuídas a doenças cardiovasculares, resultando em mais de 20,000 óbitos anuais e o país a liderar as estatísticas de mortalidade cardiovascular da Europa Ocidental.
Os médicos de cirurgia vascular são, nesta envolvente, um pilar importante da prevenção e tratamento de perturbações vasculares numa população onde se estima que a obesidade já afecte pelo menos 20% dos indivíduos, juntando-se a outros factores de risco como o tabagismo, hipertensão e excesso de colesterol.
Por parte do Estado é necessária no entanto acção concreta com vista à formação e educação da população e o incentivo a hábitos quotidianos saudáveis, passando pelo desporto e pela alimentação correcta. Em 2013, Portugal era efectivamente um dos últimos países europeus sem um plano de acção para promoção de alimentação saudável, segundo o Portal da Saúde.
A lacuna entretanto eliminada com o lançamento do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS).
Encontra-se também em implementação o Programa Nacional para as Doenças Cérebro-cardiovasculares (PNDCCV), que tem entre os seus objectivos a redução da mortalidade por causas ligadas ao aparelho circulatório em 1%, a redução da mortalidade intra hospitalar global por enfarte agudo do miocárdio para 8% até 2016 e a redução da mortalidade intra hospitalar global por acidente vascular cerebral para 13% até 2016.
É de desejar que ambos os planos surtam efeito e consigam minorar os números negros das previsões que indicam um aumento contínuo da mortalidade por causas cardiovasculares até à próxima década, a par com o envelhecimento populacional.