Segundo um estudo acabado de publicar na Science Daily, as temperaturas extremas são uma causa de acidente vascular cerebral até agora pouco compreendida. Os resultados deste estudo chegam numa altura particularmente importante, em que o calor se faz sentir durante o Verão.
Ligação entre temperaturas extremas e acidente vascular cerebral
O estudo realizado pelo Helmholtz Zentrum Muenchen – Centro Alemão de Estudos de Saúde Ambiental deu conta de que os momentos críticos para a mortalidade ligada a ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral se dão quando as temperaturas se encontram nos seus pontos mais altos ou mais baixos. Como antecedente verificável, a equipa liderada pela Dr.ª Alexandra Schneider do Instituto de Epidemiologia II do Helmholtz Zentrum cita a onda de calor de 2003, que terá causado cerca de 22,000 mortes extras apenas devidas a estes episódios vasculares. O estudo confirma no entanto que também as temperaturas mais baixas causam elevada mortalidade.
O estudo que examinou cerca de 188,000 mortes em três cidades Alemãs entre 1990 e 2006 e identificaram as temperaturas acima de 20-25ºC ou abaixo de -1-8ºC como os pontos a partir dos quais as mortes por doença cardiovascular aumentavam entre 9,5% ou 7,9%, respectivamente. Em particular, as populações mais afectadas foram os idosos e aqueles com historial de doença cardiovascular, encontrando-se o acidente vascular cerebral, paragem cardíaca e arritmia entre os problemas com maior aumento na incidência.
Apesar dos mecanismos de acção que relacionam temperatura e risco de morte por causa cardiovascular não serem totalmente conhecidos, sabemos que as altas temperaturas fazem o sangue mais viscoso, aumentando por isso o risco de coágulos resultando em tromboses, particularmente nos indivíduos com artérias já relativamente comprometidas.
Ao mesmo tempo, sabemos que durante o inverno a pressão sanguínea é geralmente mais elevada, podendo tornar-se ainda mais elevada durante as temperaturas mais extremas. Nestas ocasiões, as artérias encontram-se estreitadas e o coração necessita exercer mais força para circular o sangue. Se as nossas artérias estiverem comprometidas com danos nas suas paredes que as tornem menos elásticas e mais propensas a rupturas, este aumento de pressão pode ser o suficiente para transformar uma possibilidade numa realidade.
De realçar que as temperaturas citadas são particularmente adaptadas aos intervalos de temperatura comuns na Alemanha. Para países mediterrânicos como Portugal, seria necessário replicar este estudo para encontrar as temperaturas de risco para a população Portuguesa, por forma a controlar factores de risco e programar intervenções preventivas.
A prevenção do acidente vascular cerebral
O impacto potencialmente sério da temperatura no acidente vascular cerebral traz para a luz a necessidade de durante o resto do ano mantermos a nossa tensão arterial e a nossa saúde em bom estado, com alimentação adequada e exercício físico. Isto porque se durante o resto do ano andarmos no limite do saudável, a chegada do Inverno ou do Verão podem levar o nosso corpo a atingir e superar os limites do que é capaz de aguentar.
Ao mesmo tempo, estes dados permitem uma intervenção mais adequada junto das populações, pois identificam uma condição específica em que o risco aumenta para aquelas populações mais vulneráveis. As autoridades ficam por isso numa posição mais forte para tomarem iniciativas atempadas de protecção dessas populações.
Se tem mais de 65 anos de idade, historial de doença cardiovascular, ou algum dos factores de risco associados a acidente vascular cerebral como excesso de peso, hipercolesterolemia, consumo excessivo de álcool e tabaco, os períodos do ano mais perto das temperaturas extremas – Verão e Inverno – poderão ser ideais para uma visita ao médico ou para procurar tratamento, já que a intervenção a tempo poderá salvar-lhe a vida. Não hesite em consultar-se com o seu médico para exames específicos nesta altura, e mantenha a sua pressão arterial sob controlo durante o resto do ano.
Todos nós podemos conhecer alguém em risco de acidente vascular cerebral quando a próxima temperatura extrema surgir. Por isso não deixemos de alertar também os nossos familiares e entes queridos, pois a nossa saúde está nas nossas mãos.