A intervenção em grupo é, sem sombra de dúvida, uma forma valiosíssima de trabalho nos mais variados contextos, pois permite explorar os processos de socialização e está intimamente ligada ao treino do self em acção.
Os conceitos base da grupanálise nascem em Inglaterra com Foulkes e são refinados por Cortesão, em Portugal, que acentua a importância da componente psicanalítica. Para entender o funcionamento do grupo enquanto entidade terapêutica, vamos aqui explorar brevemente os conceitos do pai da grupanálise – Foulkes.
Análise de grupo
Foulkes conta com uma vasta experiência a trabalhar com grupos. Baseando-se nas teorias gestálticas e dinâmicas desenvolveu a análise grupal como um ponto fundamental para a evolução do grupo como um todo, com o salto evolutivo relativo a cada um dos elementos que o constituem. Defende que o condutor do grupo deve ter um conhecimento profundo das dinâmicas e relações que este implica, de forma a facilitar devidamente a sua condução no sentido de desenvolver uma mudança significativa através da tomada de consciência.
Matriz
É a dinâmica estabelecida pelas variações determinadas na rede que o grupo forma. É uma teia de acontecimentos que decorrem por meio da relação e comunicação grupal, ou seja, é o “tapete” onde o grupo assenta a sua partilha.
Funciona a três níveis:
- Pessoal – corresponde às vivências pessoais reais partilhadas no aqui e no agora;
- Projectivo – quando ocorrem projecções de aspectos internos que são transferidas para qualquer elemento do grupo;
- Matriz fundamental – que se relaciona com as crenças e vivências dos elementos do grupo enquanto seres humanos e os seus arquetípicos
A rede
Relaciona-se com a figura que sobressaí de um fundo (base nas teorias gestálticas). É mais objectiva que a matriz representando a comunicação entre as pessoas na sua totalidade.
Comunicação livre flutuante
A comunicação livre é um ponto essencial de qualquer grupo terapêutico analítico que surge das ideias e associações espontâneas do conteúdo que surge neste contexto. Sendo assim, a flutuação é um processo inevitável a associar a este tipo de comunicação, pois o sentido simbólico e a significação inconsciente estão permanentemente presentes nos indivíduos que reportam imediatamente para o grupo.
O indivíduo no grupo e o grupo como um todo
O indivíduo não perde a sua individualidade no grupo, pelo contrário, ele transfere-a para o grupo e reorganiza-a de forma a influenciá-lo (mesmo que este processo seja inconsciente). Desta forma, o grupo terá um pouco de cada um dos indivíduos.
O grupo é uma manifestação para além desta soma dos vários elementos. Ganha uma alma própria constituída, não só, por partes dos elementos mas pelas interacções que surgem e que vão influenciar individualmente todos os membros.
Estrutura, processo e dinâmica
Estas são as componentes de qualquer contexto grupanalítico.
A estrutura são os padrões de relacionamento estáveis e contínuos que se armazenam e possibilitam a criação do contexto grupal.
O processo é a dinâmica das interacções grupais, quer sejam verbais ou não verbais, entre os elementos que pertencem ao grupo.
O conteúdo emerge a partir da estrutura e do processo. Não é uma fonte de análise importante para o psicoterapeuta salvo quando pretende descobrir psicopatologias instaladas.
O condutor
Esta designação foi atribuída ao líder do grupo (terapeuta), que observa as dinâmicas que surgem. Deve manter uma atitude imparcial não deixando de pertencer ao grupo, pois é essencial que ele participe quando é necessário fazer interpretações.
É sem dúvida um observador, mas participa; mesmo que a sua participação se resuma à escuta activa. Se ele não precisar de intervir é porque o grupo teve a capacidade de analisar os conteúdos emergentes. Só quando o grupo bloqueia é que ele deve intervir, ou sempre que seja necessário facilitar alguma dinâmica.
O propósito deste tipo de abordagem prende-se a três objectivos fundamentais:
- Promover o insight racional e emocional;
- Operar modificações significativas do self;
- Proporcionar ao indivíduo uma estruturação, diferenciação e funcionamento do self dotado de autonomia relativa e dependência coerente e natural.