A arte é um tema que intriga todos os que fazem parte da corrente psicanalítica e, por isso, os grandes contribuidores têm opiniões bem definidas sobre a arte. Vamos aqui, fazer uma breve abordagem das diferentes perspectivas.
A arte na perspectiva de Freud
Freud considera que a arte tem uma linguagem próxima da linguagem dos sonhos. Acha que esta está ligada ao processo primário, que é regido pelo princípio do prazer e que nasce no inconsciente. Mas utiliza o processo secundário para ganhar forma e se manifestar no consciente, dando origem à criação artística. No entanto, o pensamento artístico surge de um pensamento divergente que coloca a criatividade à disposição do indivíduo.
Entende a arte como um mecanismo de auto-defesa, nomeadamente uma sublimação, através da qual as energias pulsionais são libertadas. Muito ligado à ideia que o Ser humano é “manipulado” pelo princípio da realidade considera que a concretização artística advém de uma necessidade de equilíbrio das pulsões através da realização alucinatória.
Classifica os artistas como seres insatisfeitos que não conseguem controlar as suas necessidades pulsionais excessivas e, então, representam-nas através da obra para as satisfazer.
A arte na perspectiva de Mellanie Klein
Klein considera que o adulto pode encontrar através da obra de arte a expressão para as suas fantasias inconscientes através da introjecção e da projecção. A arte é vista como um processo de recriação e reparação de objectos internos que estão associados ao sentimento de culpa que o adulto transporta. Acha que o artista tenta criar um novo mundo de refúgio.
A reparação é fundamental para a unificação dos fragmentos adquiridos na posição esquizo-paranóide, sendo também uma defesa para a idealização criada nas suas fantasias. Não faz referência à importância da criatividade em todo o processo mas sim às necessidades de resolução dos conflitos objectais.
A arte na perspectiva de Winnicott
O estudo do espaço potencial (área intermédia entre o mundo interno e externo) onde a nasce a criatividade e o individuo pode desenvolver todo o seu potencial de criação, é o ponto fundamental para entender a criação artística na perspectiva Winnicotiana.
Winnicott associa o objecto transicional a uma criação artística, devido ao seu poder mediador que permite manter um elo com a figura de referência. Relaciona a fantasia e o sonho com a o brincar, que desperta a criatividade fazendo uma ponte entre a realidade interna e externa, deixando-as interagir livremente. Considera que brincar é a primeira experiência cultural e criativa criando um “lugar” que não é dentro nem fora, é apenas um “lugar” onde tudo se torna possível mesmo as fantasias e os sonhos. Brincar é, em toda a sua plenitude, uma verdadeira criação artística.
A arte na perspectiva de Marion Milner
Para Milner, a arte surge com uma função bem definida de criar algo totalmente novo, como se uma nova percepção estivesse ao alcance do artista e providenciasse uma fonte de renovação e expansão da nossa capacidade de concretização.
Milner experienciou a pintura profundamente e concluiu que as aprendizagens artísticas não vêm apenas do mundo externo mas que se submetem a revisões do mundo interno. Vê a arte como um veículo para o auto-conhecimento.
Refere, ainda, que a interacção com a pintura pode confrontar o artista com a perda de controlo. Podem ser descobertos “monstros” interiores, com os quais, o artista não consegue lidar por estarem escondidos em áreas inconscientes às quais nunca tinha tido acesso.
Considera, tal como Klein, a arte como um momento de recriação e reparação interior.
Para Milner, é fundamental que o artista esteja atento à interacção entre a mente e o corpo, para que as forças organizadoras actuem de forma espontânea. Esta interacção deve levar o artista a uma “união mística” e não a uma perda de identidade. Considera, ainda, que a actividade criativa é formada pela co-relação do modo discursivo e não discursivo, do consciente e do inconsciente sugerindo uma nova integração de afectos.