O script é como um plano de vida, algo que se estabelece como sendo a única forma de actuação de determinado indivíduo.
O ser humano é considerado inferior aos outros seres no ponto de vista biológico, pois ele exige, na primeira infância, um acompanhamento constante para a satisfação das suas necessidades básicas.
Com este crescimento e maturação “lentos” a criança assume figuras de referência, às quais tenta agradar pois são estas figuras que garantem a sua sobrevivência. A criança tenta suprimir, no exterior, os medos internos como a falta de amor ou sensação de abandono assumindo como verdadeiras todas as premissas lançadas pelas figuras de referência.
O script nasce desta necessidade de contacto que a criança demonstra desde os primeiros momentos da sua vida. No decorrer da vida há sempre situações que vêm realçar o script, o que faz a criança acreditar que ele é a única forma de relacionamento com o Mundo.
As expectativas que os adultos colocam sobre as crianças iniciam o desenrolar do script. Por exemplo, uma mãe que refere constantemente que a criança tem muitos azares na vida, fá-la acreditar que o azar é uma parte de si. Com facilidade esta criança, quando adulta, vai dar espaço a que esta realidade se concretize.
O script surge de uma repetição compulsiva e permanente de jogos psicológicos que são escolhido pelo indivíduo, ainda em criança, como funcionais nos seus relacionamentos. É comum a presença da triangulação da salvação, pois faz o indivíduo sentir a presença do outro.
Todos utilizamos jogos para nos relacionar, seguindo de certa forma um script que foi criado para nós e que assumimos, a dada altura, como a “história da nossa vida”. Mas quando esta utilização é constante e o indivíduo não consegue relacionar-se de outra forma, entramos num estado patológico em que apenas o mundo das ideias interage e não há uma ligação directa ao aqui e agora. Preso a este enredo o indivíduo não consegue manifestar todo o seu potencial inato latente no seu verdadeiro Eu.
O que se pretende numa perspectiva terapêutica é que o indivíduo abandone as escolhas condicionadas pelo script e tome novas decisões que insurjam do seu verdadeiro Eu, permitindo uma alteração do seu quotidiano, com um contacto verdadeiro com o outro (e consigo próprio) sem jogos psicológicos a comandar estas interacções.
Durante a minha pesquisa e reflexão sobre este tema, vi o filme “Chocolate” que me ajudou a entender de uma forma mais profunda o conceito de script e a forma como este pode ser alterado.
Neste filme, a personagem principal é uma mulher que pertence à tribo do norte. Estas mulheres são nómadas e têm que seguir a vontade do vento do norte, por isso a vida delas será viajar por diversas comunidades partilhando o seu conhecimento e partindo quando o vento chamar.
Depois de se instalar na nova aldeia a nossa personagem cria laços intensos e é abalada com o sentimento de rejeição que a filha tem sobre este modo de vida. O vento começa a chamá-la mas a sua vontade de fazer diferente, em prole do que o seu verdadeiro Eu pretende para a sua vida actual, é tão forte que consegue alterar o seu script.
Este é um exemplo ficcional mas poderoso, ajuda compreender este conceito e a possibilidade real de moldar as nossas escolhas. Podemos ser diferentes a todo o momento desde que fiéis a nós próprios.