O cérebro humano, ainda que já muito estudado, continua a revelar grandes incógnitas para as comunidades médica e científica. Tudo o que fazemos no nosso dia a dia é enviado ao nosso cérebro, que processa e regista a informação.
A simples leitura deste artigo implica a visão, o processamento da linguagem, a mobilidade para movermos o rato, e tudo isto está a ser, em simultâneo, processado e descodificado pelo cérebro. Não significa isto que o seu processamento seja igual ao de outra pessoa que leia também este texto. Na verdade, há uma certeza absoluta: do tanto que ainda há por descobrir, sabe-se que o nosso cérebro é efetivamente traiçoeiro.
É por isso que as ilusões de ótica nos enganam?
Exatamente. Até porque o nosso processo de visão funciona de um modo estritamente interligado com o cérebro: a luz é detetada por células instaladas na retina dos nossos olhos e é convertida em sinais elétricos que são transmitidos ao cérebro através do nervo ótico. As imagens são então processadas. Acontece que o que o cérebro não vê, inventa, e daí surgirem interpretações distintas para uma mesma imagem ou até mesmo “visões” em situações que a nossa visão e o nosso cérebro não descodificam de forma apropriada.
O nosso cérebro é, de fato, tão perigoso que até pode acreditar que vivemos experiências por que, afinal, nunca passámos. Chama-se a isto confabulação, que se dá quando o cérebro tira imagens de filmes ou da televisão e as instala nos nossos registos como sendo memórias pessoais.
Assustador, não é?…
Não há forma de treinar o cérebro contra estas “traições”?
Como se referiu, ainda há muito por descobrir acerca do cérebro humano. Aquilo que se sabe é que ele pode ser treinado por forma a ser estimulado e a maximizar o seu potencial.
Para isso, bastam alguns pequenos truques:
- socializar. a investigadora Anne Corbett, da Sociedade de Alzheimer do Reino Unido, definiu o termo “reserva cognitiva” que se refere à capacidade que o nosso cérebro tem de prolongar por mais tempo as habilidades adquiridas durante a vida. E, pelo que parece, ser socialmente ativo contribui para este benefício.
- aprender novos idiomas. O jornal Neurology publicou um estudo que revela que a aprendizagem de novos idiomas pode retardar o aparecimento de Alzheimer em até quatro anos, na medida em que estimula a atividade cerebral.
- ler. A leitura continua a ser uma das melhores técnicas para estimular e desenvolver a nossa memória e a função cerebral.
- traçar objetivos. E lutar por alcançá-los. Diversos estudos apontam que as pessoas com metas de vida são cerebralmente mais ativas e que as células nervosas se tornam mais resistentes.
E truques para quem sofre de memória seletiva?
Na verdade, todos temos uma espécie de memória seletiva. O nosso cérebro não tem a capacidade de armazenar toda a informação com que se depara diariamente, pelo que faz uma triagem dos temas prioritários que devem ser processados e registados. No entanto, sabe-se que uma das formas de enganar o cérebro quando precisamos de reter alguma informação é através do “registo de familiaridade”.
Ou seja, associando a cada tema a memorizar um conjunto de aspetos que nos sejam familiares e, em especial, emotivos, por forma a que, através deles, consigamos recriar uma história. Perceba melhor este truque no vídeo abaixo:
Como vê, o seu cérebro (e os nossos!) pode ser, realmente, traiçoeiro. Sabendo disso, e da incontrolabilidade da situação, o melhor é acreditar na famosa frase de Charles Chaplin: “O nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade.”