O Botox é um ícone da medicina estética, mas começam a amontoar-se as provas de que a toxina botulínica pode também ser uma forte arma contra a depressão. O estudo recentemente divulgado e co-autorado pelo Dr. Eric Finzi, dermatologista, e pelo professor de psiquiatria da Georgetown Medical School, Professor Norman Rosenthal, aponta para uma redução dos sintomas da depressão em 52% das pacientes injectadas com botox. Agora, uma escritora decidiu testar a teoria por ela própria, fazendo-se injectar com o fármaco.
Botox para combater a Depressão
Taffy Brodesser-Akner, mãe de dois filhos e residente em Los Angeles, interessou-se pelos trabalhos do Dr. Finzi desde o início, decidindo recentemente colocar a teoria à prova, com resultados mistos.
Brodesser-Akner optou por uma injecção de Botox na zona da sobrancelha, mas rapidamente começou a sentir os efeitos de uma intervenção desnecessária, quando as sobrancelhas se tornaram pesadas e as dificuldades em mover parte da face se tornaram óbvias. Para Brodesser-Akner, a expectativa após ler os estudos do Dr. Finzi, era que se sentiria melhor interiormente.
O que aconteceu foi algo inverso: incapaz de movimentar correctamente os músculos faciais, a jovem mulher começou a sentir dificuldades em se relacionar com outras pessoas, já que as nossas expressões faciais são um pilar da comunicação interpessoal e da nossa capacidade de estabelecer laços afectivos com os outros.
No entanto, com o passar do tempo, Brodesser-Akner começou a sentir as vantagens da intervenção: as reuniões da associação de pais ou os momentos stressantes tornaram-se menos intensos, uma vez que as suas expressões faciais permaneciam calmas em vez de revelarem o seu nervosismo ou tensão.
Apesar disto, o balanço estava a ser negativo para a Norte-Americana, que começou a reconhecer sentir-se pior pela impossibilidade de se expressar facialmente do que se sentiria com uma expressão triste. Nas suas próprias palavras, “sentia as mesmas emoções de sempre; simplesmente não me importava com elas”.
Resumindo a sua experiência, Brodesser-Akner declarou sentir-se diminuída pela menor profundidade dos seus sentimentos: “O Botox também me tirou os outros sentimentos, aqueles que nos fazem sentir inteiros: alegria, ciúmes, frustração, triunfo”.
Não foi por isso com pouco alívio que a arrojada mulher reconheceu os sinais dos efeitos do Botox a desaparecerem à medida que a substância desaparecia do seu sistema e as suas expressões faciais recuperavam a normalidade.
A relação entre o Botox e a depressão
A toxina botulínica é um poderoso agente cosmético graças à sua acção paralisante dos músculos, o que também lhe abre portas noutras especialidades médicas. É essa capacidade paralisante que faz com que o Botox atenue as rugas de expressão ao relaxar os músculos que são por elas responsáveis, mas também combata a enxaqueca crónica ao atenuar a acção dos músculos que circundam a cabeça.
Recentemente, o estudo do Dr. Finzi revelou que a injecção da toxina também parece diminuir a intensidade dos sintomas de depressão nas mulheres intervencionadas. A teoria subjacente a estes resultados é que entre as expressões faciais e o nosso cérebro existe um mecanismo de feedback positivo. Assim, ao sentirmos stress e franzirmos a testa ou cerrarmos o maxilar, esta acção envia sinais para o nosso cérebro, permitindo-nos aperceber do que estamos a sentir com mais clareza, mas reforçando o sentimento de tensão.
Para o Dr. Finzi, ao atenuarmos a intensidade das expressões faciais, atenuamos os sinais enviados para o cérebro, e será através desse mecanismo que parte das mulheres do estudo passaram a sentir-se menos deprimidas.
A experiência realizada agora por Brodesser-Akner poderia levar-nos a questionar os resultados, mas realçamos que não só a teoria se encontra na sua infância, como a acção de Brodesser-Akner não pode ser considerada válida para tirar conclusões de validade científica. Não só não necessitava da intervenção, como não a realizou em condições controladas, nem nos é possível aferir se recorreu às quantidades correctas de Botox ou se teria uma depressão diagnosticada.
Acima de tudo, a escritora Norte-Americana optou por receber este tratamento, sem considerar se seria adequado para si. Esta é uma opção que deve ser sempre fruto do diálogo entre médico e paciente, e apenas e só quando for a resposta mais adequada às necessidades deste. Receber injecções avulsas de Botox não é aconselhável, nem é por si só benéfico, e a relação entre o Botox e a depressão deve ser entendida no âmbito de casos específicos onde as expressões faciais sejam um factor efectivo a levar em conta nos sintomas da depressão.
Com ou sem depressão, é sempre recomendável que só após consulta com um profissional especializado decida se o Botox é ou não indicado para si.